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COMO SE PODE DORMIR COM UM BARULHO DESTES?

COMO SE PODE DORMIR COM UM BARULHO DESTES?

 

Dante Lucchesi. Professor Doutor de Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, escritor e poeta.

 

Com a velhice vieram as dificuldades para dormir bem. Acordo durante a noite e nem sempre é fácil voltar a dormir, sobretudo quando chega a claridade da alvorada. Mas depois desse sábado, a coisa piorou muito. Quando desperto, vem logo a mente a prisão do nosso presidente Lula, e o sobressalto dessa ignomínia não me deixa mais dormir. Fico pensando no presidente, quando também desperta de madrugada na fria sala da PF, em Curitiba, e fica angustiado com a terrível injustiça de que foi vítima. E pensa nos que ainda celebram essa ignomínia. É bem verdade que esses estão perfeitamente representados por aquele dono de puteiro que pendurou no seu estabelecimento os retratos de Moro e Carmen Lúcia, uma merecida homenagem, diga-se de passagem.

Pensa que aqueles que se regozijam com sua prisão são os que precisam ter ao menos uma empregada doméstica, para se reconhecerem no sentimento de superioridade de um senhor colonial, mesmo que a empregada não tenha a carteira assinada, nem receba seus direitos trabalhistas, porque a corrupção e o ilícito é sempre do outro e nunca minha.

Fico pensando que foi para perpetuar essa ordem implacável, injusta e cruel que Lula foi preso. Foi por ela que Lula foi julgado, não de acordo com o princípio da presunção da inocência, mas guiado pelo princípio da presunção da culpa. Foi por isso, que ele foi condenado sem provas, mas por pura convicção. Foi por isso que o TRF-4 ratificou essa aberração jurídica, e o STF se curvou aos ditames da mídia e às ameaças de um general.

Carmen Lúcia não preside o STF para acabar com a impunidade, senão não teria se curvado ao senado para manter impune o senador playboy de Minas, contra quem, segundo um ministro do próprio STF, há mais provas do que as que condenaram a maioria dos que estão presos hoje no país. Se estivesse comprometida com a Justiça, não manteria conluios privados com o presidente golpista, chefe da quadrilha que assaltou o Palácio do Planalto, em 2016.

A cruzada de Sérgio Moro também não é contra a corrupção, senão ele não trocaria cochichos e sorrisos cúmplices com o mesmo Aécio Neves, um dos nomes mais citados nas delações da nefasta Operação Lava Jato. Nem protagonizaria uma das mais lastimáveis cenas, na qual pediu ao golpista Temer, que já havia comprado a Câmara por duas vezes para não ser processado com provas robustas de corrupção, para que este o ajudasse em sua cruzada, interferindo nas decisões do STF.

Se fosse contra a corrupção, ao invés de se curvar para cumprimentar o presidente golpista, Moro teria agido para apeá-lo do poder, como fez para derrubar uma presidenta legitimamente eleita, violando a lei ao divulgar criminosamente sua conversa telefônica e ordenando arbitrariamente a condução coercitiva do ex-presidente Lula.

Definitivamente, a cruzada de Moro e Dallagnol não é contra a corrupção.

É contra o direito de ampla defesa do cidadão (o que aumenta os seus poderes fascistas).

É contra o PT, e contra Lula.

Por que é contra a distribuição de renda.

É contra a Petrobrás.

É contra a indústria naval brasileira.

É contra o programa nuclear brasileiro.

Por isso, Moro foi treinado nos EUA.

Porque ele contra o desenvolvimento industrial do Brasil.

E é contra a política externa dos governos do PT, independente, e não submissa ao imperialismo norte-americano.

E, com a ajuda de uma mídia oportunista e calhorda, Moro está vencendo.

E o Brasil está perdendo. Perdendo 400 bilhões de reais e dois milhões de postos de trabalho. Está perdendo sua soberania. O pré-sal. Seus aquíferos.

E perdem mais os trabalhadores do Brasil, porque perdem seus direitos trabalhistas, sua aposentadoria, e a possibilidade de eleger livremente o seu maior líder.

E, por fim, perdem o sono aqueles que ainda têm a capacidade de se indignar neste devastado país, pois como se pode dormir com o tenebroso estrondo da derrocada de uma nação?

 


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